O Evangelho segundo João é o quarto Evangelho na ordem e difere significativamente dos três primeiros Evangelhos, os chamados Sinóticos (de Mateus, Marcos e Lucas). Foi escrito por volta do ano 100 e é o último Evangelho canônico escrito.
O Evangelista João se distancia em parte da personalidade histórica de Jesus e contém uma cristologia já desenvolvida que considera Jesus como o Logos divino. Os três Evangelhos anteriores falam principalmente dos ensinamentos de Cristo na Galileia, enquanto este se concentra mais nos ensinamentos na Judeia. Ao contrário dos outros, não contém nenhuma parábola de Jesus. Em vez disso, as palavras de Jesus são discursos longos em vez de ditos concisos.
Sua expressão teológica é muito reflexiva e espiritual: ele explora as alturas e profundidades teológicas e, por isso, a tradição da igreja o associa frequentemente à imagem da águia.
O Evangelho segundo João retrata o conflito entre o cristianismo primitivo e o judaísmo da época. Os fariseus são representados de forma negativa, enquanto os judeus são mostrados tomando posição a favor e contra o cristianismo. Este Evangelho era considerado pelos cristãos gnósticos como seu livro e usado como fonte primária para o ensino gnóstico, enquanto o cristianismo primitivo, apesar de algumas objeções, ainda o incluiu no Novo Testamento.
Quem é o autor do Evangelho segundo João?
De acordo com a tradição, o autor é João, o Evangelista, o discípulo que Jesus amava. Ele era próximo de Pedro. Originário da Galileia, do Mar da Galileia, assim como Pedro. João era, portanto, um dos discípulos mais próximos de Jesus.
A antiga tradição patrística do século II atribui a obra a João Zebedeu, irmão de Tiago Maior, mas novas pesquisas buscam identificar outro autor. Certamente não é algum presbítero João, de Éfeso, nem algum João, essênio da comunidade essênia de Jerusalém, que hospedou Jesus e tornou-se seu fiel discípulo. Uma de suas características no Evangelho é o dualismo luz-trevas, presente também no ensino de Qumran. Ele conhece bem os elementos gnósticos e os utiliza.
Ele também faz uso do apocalipse, mas o rejeita. Portanto, ele conhece bem o mundo judaico e pagão para transmitir melhor e mais claramente a boa nova de que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o único caminho para a vida eterna.
Quando e onde foi escrito o Evangelho segundo João?
Hoje todos concordam que o Evangelho de João não foi escrito no Egito, mas na Ásia Menor. Se o Evangelho de João já estava circulando no Egito no meio do século II, então deve ter sido escrito muito antes, no máximo entre 100 e 110 d.C. Esta data não está longe da opinião tradicional de que o quarto Evangelho foi publicado no final do primeiro século, por volta de 90 d.C. Brown, que vê o quarto Evangelho como obra de duas pessoas, o evangelista que o compôs e o redator que adicionou o capítulo 21 e algumas partes, acredita que o Evangelho foi escrito por volta de 90 e editado, ou seja, recebeu sua forma atual não mais tarde que 110 d.C.
O local mais provável de origem do quarto Evangelho é Éfeso. Isso é corroborado pela tradição. Assim, Ireneu de Lyon diz: “Depois disso, João, discípulo do Senhor, aquele que reclinou-se sobre o peito de Jesus, publicou o Evangelho enquanto residia em Éfeso na Ásia”.
Qual é a estrutura do Evangelho segundo João?
A estrutura de todo o livro pode ser dividida em sete partes com uma introdução.
Introdução (1,1-18)
- Sequência temporal: João deseja retratar Jesus como uma pessoa na qual o culto judaico termina e um novo culto cristão começa. O papel dos festivais judaicos é importante, nos quais muitos milagres de Jesus são destacados: Primeira Páscoa (1,19-3,36), Segunda Páscoa e a cura do paralítico (5,1-47), Terceira Páscoa fala sobre o pão da vida (6,1-71), festa dos Tabernáculos – Jesus cura o cego (7,1-10,21), festa da Dedicação do Templo (10,55-11,54), Páscoa do Cordeiro de Deus (11,55-19,42), e a ressurreição (20,1-31). Embora alguns acreditem que João menciona apenas três Páscoas, de acordo com a interpretação de João 5,1, o ministério de Jesus inclui até quatro Páscoas. Neste verso, o nome “Páscoa” não é mencionado diretamente, mas apenas “festival judaico”. No entanto, pode-se concluir que se trata da Páscoa, pois a ação ocorre por volta de março ou abril (4,35; “Ainda quatro meses, e depois vem a colheita”), e a Páscoa é o único festival judaico nesse momento.
- Eventos: Primeira Páscoa (2,13-3,36), Segunda Páscoa (5,1), Terceira Páscoa (6,4), festa dos Tabernáculos (7-9), Dedicação do Templo (10-11), Quarta Páscoa e morte, última semana da vida terrena de Jesus (12-19) e aparição de Jesus (João 20).
- Há uma abordagem narrativa. João distingue o livro dos sinais que abrange um novo começo (2,1-4,42), a Palavra da vida (4,46-5,47), o pão da vida (9,6), a luz e a vida (7,8): a vitória da vida sobre a escuridão-morte (11,1-36), e o livro da glória que abrange discursos de despedida (13-17): paixão, morte, ressurreição (18-20).
- Evangelho – livro da salvação que descreve o testemunho de Cristo no mundo (5,1-12,50) e a vida da Igreja baseada na ressurreição de Jesus (13,1-20,31).
- Revelação dramática de Cristo: João Batista testemunha sobre Cristo (1,19-51), revelação do Messias (2-4), revelação do Filho do Homem (5-10), jornada a Jerusalém (11-12), hora de Jesus (13-20), despedida (13-17), paixão, morte e ressurreição (18-20).
- Livro dos sinais (1,19-12,50), revelação através de sinais (2,1-4,54), festivais: sábado, Páscoa, Tabernáculos, Dedicação do Templo, ante a hora da morte e da glória (11,1-12,50), livro da glória (13,1-20,29), paixão, morte (18,1-19-42), aparições e experiência de fé (20,1-29), final do Evangelho (20,30-31).
- Missão da palavra, revelação em Caná da Galileia aos discípulos, no templo é revelado aos judeus: a Nicodemos como representante do judaísmo, à mulher samaritana como representante dos samaritanos, ao oficial real que representa os pagãos, e a revelação de Jesus aos membros da Igreja (5,12). Cristo se revela como Profeta (5,1-47), como o pão da vida (6,1-7,1), a luz do mundo (7,1-59), o Bom Pastor (10,1-21), a ressurreição de Lázaro (11-12,36). Ele se revela aos discípulos (13,1-20,29). Descrição da paixão, morte e ressurreição (21,1-29). Nova vida da Igreja (21,1-25).
O que o Evangelho segundo João contém?
A introdução começa com a frase: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus…(Jo 1,1). Isso lembra os sete dias da criação com os quais o mundo e a criação começam. A própria introdução destaca que o Verbo, que é um com o Pai, vem a este mundo com o objetivo de renovar o que já foi criado e iniciar uma nova era de criação, uma renovação em Jesus. Por meio deste Verbo, ou seja, por meio de Jesus Cristo, começa uma nova criação, um mundo divino que entra na realidade na terra.
Após a introdução, seguem-se capítulos que descrevem os festivais judaicos nos quais Jesus está presente. O Evangelho segundo João abrange a vida de Jesus desde o dia em que nasceu até ser crucificado na cruz. João descreve muitos milagres que Jesus realizou. É através disso que João deseja revelar quem é Jesus. Três Páscoas são mencionadas diretamente, e indiretamente uma quarta (a segunda na ordem) (2,13; 5,1; 6,4; 12,1), a festa dos Tabernáculos (7,2) e a Dedicação do Templo (10,22), e além desses principais festivais, outros festivais menores são mencionados.
Por meio dos festivais, Jesus revela seu mistério. A Primeira Páscoa (2,13,19-21) quando Jesus limpa o templo e revela que seu corpo é o verdadeiro e autêntico templo. Na época da festa de Pentecostes, é descrito como Jesus cura e mostra seu papel messiânico. A Terceira Páscoa é importante porque é quando Jesus se declara o pão da vida, e na festa dos Tabernáculos, ou festa da luz e da água, Jesus se chama de água viva (7,37-38) e a verdadeira luz (8,12).
Na festa da Dedicação do Templo (10,22), Jesus se revela como aquele enviado pelo Pai (10,36), como o Bom Pastor. Na época da quarta Páscoa, ele se revela como uma nova Páscoa pelo sacrifício da cruz e a ressurreição. A ordem dos festivais neste evangelho dá ritmo e atmosfera à proclamação messiânica. Entre todos esses festivais, o mais importante é a Páscoa. As primeiras três Páscoas direcionam e anunciam a última, a quarta Páscoa, na qual um novo templo é criado e uma liturgia que substituirá os festivais judaicos, que é o sacrifício pascal de Cristo, a páscoa cristã.
Qual é a mensagem do Evangelho segundo João?
Durante todo o Evangelho de João, a importância da fé é constantemente enfatizada, pois apenas por meio dela é possível alcançar uma nova vida ou manter a existente. João, o Evangelista, através de seu Evangelho, deseja revelar quem Jesus realmente é. Sua influência e identidade são destacadas por meio de seus muitos milagres. João vê a fé como algo dinâmico. Acreditar significa aceitar a revelação de Deus em Jesus Cristo. O homem acredita quando vê os sinais e obras de Jesus, mas regularmente se acredita em Jesus ou em seu nome. A crença implica em se entregar a Jesus e reconhecê-lo como Senhor. É necessário entrar em comunhão com Jesus. Isso significa conhecer seu mistério, sua origem divina e reconhecê-lo como Deus-homem.
O Evangelho é escrito de forma que seus leitores possam reconhecer o Cristo vivo na Cruz, presente na comunidade de seus fiéis, a quem Ele dá o Seu e o Espírito do Pai. Assim como o Evangelho de Marcos, Lucas e Mateus se concentra no “Reino de Deus”, o Evangelho de João se concentra na “vida eterna”, que consiste na comunhão mais íntima de todos os fiéis com Jesus Cristo.
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